quarta-feira, 25 de março de 2009

Relatório de uma aula já passada

Relatório de aula (22/02/09)

Seguindo talvez o único estereótipo presente nas aulas de português, esta aula leccionada no dia 22 iniciou-se com a leitura do relatório anterior.

Após esta tarefa regular a professora passou à leitura de um poema cujo autor Walt Whittman (de nacionalidade americana) aparenta agradar a Fernando Pessoa. O dito poema fala sobre a suposta separação existente entre as pessoas, uma barreira social ou cultural, que na sua opinião não passa de uma ilusão. O ritmo imposto na sua obra tende a lembrar a mecanização de Álvaro de Campos. Realizou-se ainda a leitura de uma contracapa e de um texto centrado nas onomatopeias, analisando o seu conteúdo.
De seguida a nossa atenção centrou-se no manual, mais precisamente na página 166 “Não sei, ama, onde era”. O aspecto que mais sobressaiu foi o facto de ser escrito num ritmo infantil repetindo as mesmas palavras quando tal é desnecessário, dando a ideia de falta de vocabulário. É como se o poeta (um homem feito) estivesse a recordar a sua infância, apreciando as memórias felizes do passado.

Virando a folha a atenção foca-se na página 168 “Quando as crianças brincam”. Analisando este poema chega-se à conclusão de que o poeta usa a infância de terceiros na tentativa de se lembrar da sua, pois não se lembra de quem foi e nem sabe quem poderá vir a ser. Na mesma página examina-se ainda o poema “Pobre velha música”. Neste, o poeta ao ouvir a música é preenchido com um sentimento avassalador de prazer e chora numa demonstração de emoção positiva. Recorda uma infância que não tem certeza de ser sua (dá-se um paradoxo, algo muito presente neste poema).

O seguinte tema a ser abordado foi o interseccionismo na página 169. O interseccionismo ocorre aqui devido à existência de um “caminho” ao longo das diferentes memórias do autor, até transformações, que no entanto são capazes de ser assimiladas pelo leitor num raciocínio lógico.

Já perto do final da aula iniciou-se uma conversa entre a professora e os alunos relativamente aos conhecimentos apreendidos e também sobre a importância dos testes e trabalhos individuais como factores decisivos na nota final. Foi ainda transmitido o conselho de comprarmos e ler o livro “Felizmente há luar”, por ser a matéria que viríamos a enfrentar mais tarde, ou simplesmente pelo nosso desenvolvimento pessoal.

Para finalizar foi-nos proposto um exercício de desfecho, algo deveras invulgar: deveríamos ler num murmúrio audível o pequeno poema “Poema décimo quarto” da página 181 do manual. O objectivo era fazer com que a turma inteira desencadeasse uma espécie de reza, algo indecifrável. Após algum tempo de leitura fomos parando de ler um a um (de acordo com a ordem da professora) e tornou-se possível ouvir o silêncio dos nossos lábios atarefados.


David Cunha
Nº9 / 12º H

terça-feira, 24 de março de 2009

Relatório Final

Terça-Feira, 24 Março de 2009

O céu tardio de primavera pairava sobre mim e os meus homens. As nuvens bem lá em cima sobrevoavam calmamente as nossas cabeças, mas mal notávamos nesses pequenos pormenores… a guerra estava prestes a terminar. Bem… mais ou menos. Os meus superiores teimam que um acordo é possível e que poderemos viver em paz com esse animal. São uns tolos! Uns obtusos burocratas gordos que à muito esqueceram o significado da palavra trabalho e esforço! Limitam-se a dar ordens estúpidas e de dificuldade exagerada para as nossas qualificações. Impõem objectivos grandiosos e esperam que nos desenvencilhemos apenas para se apoderam dos louros! Nunca fui tão insultado na minha vida e que fique devidamente registado que, se isto se repetir, eu irei pessoalmente espancar os culpados com uma sacola de livros bem pesadinha.

Sinto-me como um borrão de terra repousado inconvenientemente na mesa dos meus “senhores”, cujo destino se resume a ser despejado juntamente com o lixo! Isto não é a forma correcta de um homem sofrer meu deus. Não que exista uma forma correcta de sofrer mas aposto que são variadas, e eu estou a apreciar uma delas: este falso intervalo. Este falso descanso, estas tréguas passageiras. A calma antes da tempestade que irá abalar com a consciência deste pobre… estudante.

Férias? São duas semanas! Isso não são férias, isso é dormir até tarde e acordar no dia seguinte apenas para descobrir que a escola já começou! Mais valia começar já o terceiro período, poupava-me o sofrimento e tirava-me a cabeça de outros assuntos.

Ora bem, relatório de “guerra” então: sofremos várias casualidades com o decorrer deste combate sangrento. Os textos postados foram poucos no entanto (na minha humilde opinião não sarcástica) bons. Realizaram o trabalho que muitos pequenos textos insonsos não conseguiriam. Tentei escrever sempre que sentia um tremor interior de ímpeto para tal, um sentimento de inspiração, lamento que tenha sido escasso. Falei sobre a vida e dos seus lados bons e maus, mencionei o meu elemento e comentei (nem que de forma indirecta) a matéria dada.

No fim chego à conclusão que poderia ter feito muito mais mas que também sou humano e o meu relógio interior está um caos.

Boa noite

quarta-feira, 11 de março de 2009

Escrever porque sim.

(texto referente à segunda aula do 2º periodo)

Tenho de escrever. Simplesmente tenho. Quando me questiono o porquê de tal tarefa, respondo simplesmente: porque sim. Porque é preciso para a minha nota, porque essa nota é precisa para a minha média, porque essa média é precisa para os meus estudos, e porque os meus estudos são precisos para o meu sucesso? Hum… Talvez. O sucesso não está inteiramente ligado ao estudo na opinião deste jovem mandrião. Anseio pela sorte, evito os desafios e temo pelos problemas, admito-o não com orgulho mas com um ucal na mão e ainda espero que a vida me sorria mergulhando-me na sua bonança.

No entanto, apesar destas fortes convicções baseadas em largas horas de indolência e reflexão eu viro-me contra os meus princípios e tento estudar, como agora. Respiro fundo e ligo o modo robot.

NA ÚLTIMA AULA! … Ups, caps lock ligado, detesto quando isto acontece.

Na última aula (que por acaso foi a primeira aula do segundo período para mim pois falhei em comparecer à primeira) foi uma aula deveras interessante do ponto de vista prático e teórico. Como sempre (ou como devo estar sempre), encontrava-me sentado no lugar que apesar de não ser meu eu o trato como tal. Direito e encurvado, olhos abertos e orelhas no ar procuro corrigir aquela nódoa mal cheirosa que recebi no primeiro período no lugar da nota de português. Que erro atroz. Um 10… sou português e tenho 10 à minha nacionalidade numa escala de 0 a 20. Sou metade quê? Mas adiante, não há tempo para divagar…A stôra encontra-se a falar sobre a importância do trabalho individual ou seja, não há boleias para ninguém, vai tudo a pé. Cada um está somente dependente das suas capacidades e isso é bom. É… Não é? E então com este novo pensamento de individualidade o meu cérebro entrou num período de estagnação poética, demonstrando sinais de vida apenas ao ouvir uma brilhante divagação de José de Almada-Negreiros.

Meu deus, é um animal

Há uma certa altura na nossa vida em que dentro de todos nós, os bravos machos ibéricos, despertamos o nosso consciente ao conceptualizar as mulheres como algo mais do que a fonte de repugnância infundada. A mim esse momento mágico aconteceu aos 12 aninhos de idade, numa ida normal à casa de banho da escola. Dirigindo-me ao urinol com uma ânsia de aliviar a bexiga, dei-me comigo a ouvir uma conversa de dois colegas que reflectiam sobre a aparência física de uma outra colega. Eu mal entendi os termos ou o propósito de tal debate, realizando a minha humilde tarefa e lavando as mãos de seguida (sem sabonete pois como é conhecimento geral: os alunos roubam sabonetes porque é giro). De repente atingiu-me, como se de um calhau se tratasse, um conceito novo para mim. As mulheres são fixes.

Era como se uma enorme luz fosse projectada no crânio, iluminando uma zona que até à data nunca vira a luz do dia, ou da noite. O mundo tinha mudado enquanto eu admirava o urinol.

Hoje em dia, esse conceito está de tal forma interiorizado e essa luz tão intensa que até se pode dizer que os meus faróis estão em ligação permanente. Não existe um dia, UM DIA, em que eu não pense de todo no curioso sexo oposto. Seja na minha demanda diária como estudante ou nos meus tempos livre como desleixado (chego a confundir ambos). A frustração que se pode tornar quando me apercebo que nas minhas conversas com estes seres, os meus olhos não se encontram a focar os olhos das belas jovens, mas sim algo igualmente belo.

-O seu coração – diz uma testemunha anónima e viável.

Somos todos filhos da terra. Todos irmãos e irmãs. Ambos respiramos e sangramos, vivemos e existimos neste gigantesco pedaço de barro em bruto. O período que passámos cá, esperamos talvez em vão que sirva de consolação nos momentos finais. Que possamos dizer com convicção dizer que a nossa vida foi, não existencial, mas sim vivida.

Nesse momento mais crítico é possível sermos visitados ainda por essa luz. Talvez até, se tivermos sorte, pensaremos numa só mulher. Uma luz só nossa. Já não são faróis a guiar o nosso caminho mas sim uma vela solitária cuja luz nós seguiremos cegamente, ansiando pelo seu calor, cobiçando o seu…

-Coração – digo eu

segunda-feira, 9 de março de 2009

Algo interessante que não é meu

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Por: Álvaro de Campos

Ai ai ai, mi corazón

O coração é o nosso melhor e pior amigo que se encontra presente nos bons e maus momentos. Leva-nos a fazer coisas boas e más, certas e erradas, inteligentes e abominavelmente estúpidas… mas é tudo para o nosso próprio “bem” e se o coração manda é porque sabe bem. Se sabe bem é correcto? Não. Mas se não é correcto é errado? Também não. Então quem és tu coração? O vilão de bigodaça ou o nosso messias pessoal? Enches-me de tantas perguntas e dilemas que às vezes penso senão seria melhor mandar remover-te, e por uma maquineta toda bonitinha a fazer o teu trabalho. Pelo menos esta ficaria no seu lugar metida na sua vidinha (por assim dizer) e não meteria o “nariz” onde não era chamada! A única coisa que tem de fluir por ti é o sangue e não o meu desejo. Todos os dias inicias tarefas extracurriculares que eu não aprovo mas falho em conter pois, muito sinceramente, adoro. Adoro a forma imprevisível e omnipotente com que ages sem o meu consentimento mas odeio o abuso e os limites que tentas rasar. És pior que uma criança, pois enquanto esta se queima e aprende a não brincar com fogo tu queimas-te, respiras fundo, e voltas a por lá a mão. Já não te dói tanto pois não? Já conheces essa dor e tas ocorrente do que te espera, mas dói na mesma, o que me leva a pensar seriamente se não precisas de ajuda profissional.

Como é que um pequeno coto todo enrugado e viscoso consegue fazer de mim gato-sapato? Bem sei que não sou o homem mais carismático mas perder o controlo de algo tão patético faz-me duvidar da minha competência como ser humano. No entanto só é humano ( a nível espiritual) quem ouve o coração… hum. Será que preciso tanto dessa espiritualidade?

Será que preciso de ser humano?

… Si. Me gustas tu mi corazón.

Porquê? …No lo se…

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Estou Visitando

Visita de estudo

O dia começou como qualquer outro dia. Ao sentir o leve toque celestial do bruto telemóvel forcei o meu corpo a largar o conforto da minha cama, esta acção foi rejeitada e demonstrou ter duas consequências já previstas mas não evitadas: uma bonita dor de cabeça acompanhada pela perda de noção de tempo. Tomei o meu banho matinal (ou duche se assim o preferirem) vesti-me com afinco (que na minha língua se traduz em “perder tempo”) e ao preparar-me para deixar o ninho olho com horror para as horas. Voo-o para o metro como se a minha vida dependesse disso, mas já era tarde. Cheguei atrasado outra vez e ainda por cima num dia de visita de estudo da disciplina de Português, cadeira que tanto aprecio.

Como resultado do meu descuido já ninguém se encontrava no ponto de encontro, vendo-me obrigado a telefonar ao meu caro colega Sr. Fialho, questionando a localização do grupo. Seguindo as indicações cedidas pelo meu camarada, rapidamente me vejo reunido com as professoras presentes, o guia e a turma, protegidos da chuva na fachada do Teatro Nacional São Carlos. Aparentemente cheguei a tempo pois no momento da minha entrada foi lido um pequeno poema, como se iniciando a visita. Abandonamos a segurança da fachada e dirigimo-nos alguns metros pela chuva parando frente a uma estranha estátua com cerca de 3m de altura, representando um homem cuja cabeça se resume a um livro. É um tributo a Fernando Pessoa encomendado pela câmara a um escultor belga. Achei deveras divertidas a metáfora e objectividade que a estatueta pretendia transmitir: Fernando Pessoa, um leitor ávido ou um livro a divisar? Após a leitura de um outro poema continuámos a nossa visita na aldeia de Pessoa parando na igreja dos Mártires. “Á e tal, uma igreja…uau” pensei eu ao contemplar a igreja que já havia passado vezes sem conta nas minhas visitas à BD Mania (um bocadinho de publicidade, desculpem). Supostamente foi nesta igreja que o nosso aclamado Fernando Pessoa foi baptizado a 21 de Julho na presença dos seus padrinhos: a Tia Anica e o General Chaby. Dois nomes que decorei puramente pelo seu impacto cómico...
Por coincidência o pequeno poeta nasceu no mesmo dia que Santo António, algo que pode ter despoletado de alguma forma o seu interesse inicial pela religião.

No interior da estrutura religiosa olhei em redor e senti-me pequenino. Uma formiga perante a imensidão de uma bota. Não sou muito bom a historia mas pelo que me pareceu o interior da igreja encontrava-se recheado de traços rococo, formas exuberantes e douradas. Algo um pouco incomodativo e enjoativo que só piorou ao notar no gigantesco órgão, pairando sobre as nossas cabeças.

-“É muito design”-.

Deixamos o templo da alma após a leitura de mais um poema (ufa) e prosseguimos com a nossa visita, conversando alegremente entre nós sobre os temas em questão ou da questão. É uma questão de perspectiva. Percorremos as mesmas ruas que Pessoa havia percorrido e parámos na mesma tabacaria que ele havia parado.

-“ Que azulejos bonitos”-.

A próxima grande paragem deu-se no único ponto que eu já sabia que Pessoa havia frequentado: “A Brasileira”. O famoso café no qual o nosso poeta havia relaxado e descomprimido da sua vida rotineira, sendo também o local de reunião do seu futuro grupo de amigos, o bando modernista Orfeu. Foi numa loja adjacente ao famoso café que a turma tomou abrigo da chuva, agora mais violenta, e que se deu a leitura de um outro poema por parte de um personagem carismático. Eu (ui ui). Li com alguma dificuldade o pequeno texto e até me engasguei, mas não pelo meu mau português mas sim pela garganta arranhada já do dia anterior.

Passámos ainda pela Rua da Assunção (bem, já estou um bocadinho cansado). Fora num desses prédios que Pessoa havia trabalhado e onde viera a conhecer o amor da sua vida, a maravilhosa Ophelia. Esta mulher deve ter sido uma das poucas pessoas, senão a única, a descobrir o lado menos melancólico de Fernando Pessoa. Apesar de nunca ter existido qualquer contacto físico entre os pombinhos a sua paixão estava espelhada nas cartas que ambos trocavam entre si, nos bons e nos maus momentos. Já perto do final da excursão prestámos uma pequena visita ao famoso “Martinho da Arcada”. O seu interior encontra-se recheado de fotografias com alusão a Fernando Pessoa sendo a mais carismática a tirada por um amigo a meio de um passeio nocturno, que apanhou Pessoa enquanto este se encontrava a tomar um belo copinho. Essa foto mais tarde chegou às mãos de Ophelia com uma bonita e hilariante dedicatória: “Fernando Pessoa em flagrante delitro”

Para terminar dirigimo-nos ao centro da Praça onde se leu um último poema, passando para as despedidas e deixando-nos com uma grande questão sem resposta: onde íamos almoçar?



Doiem-me os dedos e tenho frio,
David Cunha nº9/ 12ºH